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08/03/2012

O silêncio bíblico sobre o racismo

 



O silêncio bíblico sobre o racismo

A Bíblia não diz uma palavra sobre a segregação racial. Em nenhum momento leva em consideração a questão da cor da pele, não dá nenhum tipo de orientação sobre possíveis relações de preconceito que pessoas desta ou daquela “raça” possam sofrer. Já vi comentários bíblicos bastante importantes mencionarem que “surpreendentemente a Bíblia não trata deste assunto tão controverso”. Se você também já percebeu isso, saiba a razão: a Bíblia não trata deste tema porque o racismo não existia no Mundo Antigo, assim como não existia no Mundo Medieval. Ele é uma invenção moderna.
No Mundo Antigo havia segregação, e muita. Mas ela jamais levava em conta a cor da pele. Os egípcios eram um povo de pele “parda”, os hebreus eram provavelmente mais claros, mas não se tem certeza. A 25º Dinastia do Egito era de faraós núbios (negros). Os grandes mercadores do norte da África frequentavam a alta corte europeia nos fins da Idade Média, por exemplo. A segregação acontecia por outros motivos, alguns dos quais aparecem revelados por Paulo em Gálatas 3:.28: “Porquanto não há judeu nem grego, servo nem livre, homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus”.
Paulo demonstra as três principais discriminações que existiam no Mundo Antigo:
1. Étnica: um povo se identificava através da língua e por seguir as mesmas leis; quem mantinha estes elementos era parte da etnia. Os membros de outros povos eram discriminados não importando qual cor tivessem. Por isso Paulo diz que “não pode haver judeu nem grego”, porque existia discriminação de judeus para com gentios, de gregos para com “bárbaros”, de romanos para com cartagineses, e assim por diante.
2. Situação social: ser escravo ou livre (cidadão) era o principal ponto de segregação. No Império Romano, havia abundância de escravos, a maioria deles provenientes dos povos europeus nórdicos subjugados. Na Idade Média, a grande fonte de escravos eram os povos eslavos, do Oriente Europeu, de quem descendem os poloneses, tchecos, eslovacos e outros. A propósito, a palavra “slave” (inglês) e “Sklave” (alemão) são da mesma origem de “eslavo” e “escravo” do português. E podemos garantir: eles eram bem branquinhos…
3. Gênero: a subjugação da mulher não precisa ser comentada… em termos históricos, sua emancipação aconteceu “ontem”.
E nada há, nem na Bíblia, nem nos registros históricos, sobre discriminação “racial” (relacionada à cor do indivíduo) na Antiguidade. A cor do indivíduo era absolutamente irrelevante na sociedade antiga e até na medieval. Mas uma nova situação começou a se formar a partir do século XVI. Com o nascimento do capitalismo e do mercantilismo / imperialismo europeu (especialmente da Inglaterra, Espanha e Portugal), surgiu a necessidade de buscar mão-de-obra muito barata e próxima aos centros produtivos para dar suporte ao novo crescimento econômico. Os eslavos haviam se cristianizado e não poderiam mais ser escravizados. A solução estava ali, do outro lado do Mediterrâneo: os pagãos africanos.
Nos três séculos seguintes, a mão-de-obra escrava foi fornecida pelos estados negros mais poderosos que vendiam seus cativos aos europeus cristãos. O consumo destes escravos se proliferou para todo tipo de trabalho forçado. Esta parte nós, brasileiros, conhecemos em profundidade.
Daí que nós somos o produto cultural de mais de quatro séculos de escravismo negro, fato desconhecido na história mundial até então. E passou a formar-se a ideia de inferioridade marcada pela cor da pele. O pior de tudo é que este pensamento racista, mesmo que disfarçado nestes dias, permanece fortemente arraigado na nossa cultura.
Estes dias vi um vídeo que quase me fez chorar. Está disponível no youtube, dê uma olhada:
Teste do racismo com crianças
Nossa cultura é racista, sim. Está no nosso íntimo. Se Paulo tivesse escrito sua carta aos gálatas nos dias de hoje, certamente incluiria um “não pode haver branco nem negro”. Mas ele não pode fazer isso. Cabe a nós esta assertiva.
Crônica escrita por André Daniel Reinke