07/12/2016

gente chata


Seja religioso, conformado, imprudente, crítico, saudosista, recordista, irônico, antipolítico, curioso, preguiçoso, seja o que você quiser, mas por favor, não seja chato!

Chato é aquele cara que, quando encontra algo em que acredita, precisa visceralmente fazer com que todos acreditem também. Acreditem e enalteçam. Acreditem e façam propaganda. Acreditem e queiram convencer a todos de que aquilo sim, é o melhor.

O chato costuma falar mais do que ouvir. E quando começa a falar, não para até que alguém – em um misto de bom senso e coragem – troque de assunto. Ele não entende que tudo em excesso é chato.
Falar demais é chato. Defender exageradamente uma ideia é chato. Querer ter sempre razão é chato. Falar apenas um assunto é chato. Tentar convencer todo mundo de algo é chato.

Num mundo que tenta o tempo inteiro ser tão politicamente correto – ao menos online, porque off-line a gente sabe que é outra história – a coisa mais fácil é se tornar um chato. Eu poderia elencar os chatos virtuais por assunto... então vamos lá!
O chato detox. É aquele cara que só toma suco verde de manhã, se entope de chia, só consome orgânico e olha incrédulo quando te vê pedindo algum alimento sem antes inspecionar se tem glúten ou lactose.

O chato humanizado. 

Esse geralmente é interpretado majestosamente pelo gênero feminino. É aquela que, depois de ver nas estatísticas a absurda quantidade de partos por cesariana que os médicos fazem, decidiu que não se precisa mais de médico, nem de hospital, nem de material esterilizado. Tudo é uma questão de voltarmos aos velhos e bons tempos em que se segurava na mão da parteira – hoje chamada de doula – abria as pernas, dava meia dúzia de urros e... BUÁÁÁ! Lá estava aquele ser gordinho, cabeludinho e saudável. A única diferença é que agora isso precisa ser registrado em dezenas de fotos, 3 horas exaustivas de filmagem e alguém pra dar um tapa no visual quando a mãezinha estiver suando muito.

O chato ostentação.

 É aquele que necessita mostrar tudo o que adquiriu nos últimos dias. Pra isso faz post de hora em hora, contando por onde anda, mostrando a quantidade de sacolas e claro, a marca importada no relógio de pulso, na direção da caranga e até no café que segura.

O chato racauchutagem. 

Mais um assunto que perambula muito mais pelo mundo feminino, mas que volta e meia aparece num cabelo acaju – de algum desavisado sobre as ciladas do tingimento aos cabelos brancos. Esse tipo de chata é aquele que a gente nunca sabe se está olhando pra uma boneca inflável – porque o cabelo é megahair, a pele é “botocada”, os dentes são quase azuis de tanto clareamento a laser, a barriga parece que foi passada a ferro e os peitos estão quase sempre estourando a blusa (sem contar que correm o sério risco de atrapalhar na hora da mastigação da pessoa, não permitindo abrir muito a boca sem bater neles) – ou só pra alguém que não aceita até hoje ter rodado no concurso pra Paquita.

O chato cultural. 

É aquele que quer sempre dar pitaco no programa de final de semana de todos os amigos. Praça? Só com um bom livro a tira colo. Cinema? Desde que não seja americano. Shopping? Coisa de gente vazia. Televisão? O que é televisão?

O chato maromba. 

Aquele! O que só posta foto na academia. Que faz o antes e depois a cada 2 semanas. Que vive munido de whey protein e flatos. Que posta todos os dias da semana algo que inicia ou encerra com o mantra “Força, foco e fé”. Aquele que não bebe nada alcoólico, que não deixa de treinar um dia, que só se alimenta de frango, batata doce, brócolis e ovo – sem a gema, que fique bem claro! – E que usa o mesmo suplemento dado aos equinos, mas finge que o corpão é produto de boa alimentação, bom treino e bom sono. Ahã.

O chato religioso. 

Aquele que já aprontou horrores na vida, mas que de repente, decide mudar. E mudar significa falar que “só o Senhor dá vida, auxilia, cativa, protege, ama, cumpre, tem poder”. E isso precisa estar na postagem de bom dia e na de boa noite... sendo que entre uma e outra ele continua aprontando horrores!


Óbvio que esse é apenas um texto exagerado. A gente sabe que de chato, todos temos um pouco – Tá. Alguns muito, eu sei. Escrevi de uma forma caricata, pois o cotidiano é como fofoca, se não houver exagero, não tem graça!

fotos

tom caet