Seja religioso, conformado,
imprudente, crítico, saudosista, recordista, irônico, antipolítico, curioso,
preguiçoso, seja o que você quiser, mas por favor, não seja chato!
Chato é aquele cara que, quando
encontra algo em que acredita, precisa visceralmente fazer com que todos
acreditem também. Acreditem e enalteçam. Acreditem e façam propaganda.
Acreditem e queiram convencer a todos de que aquilo sim, é o melhor.
O chato costuma falar mais do que
ouvir. E quando começa a falar, não para até que alguém – em um misto de bom
senso e coragem – troque de assunto. Ele não entende que tudo em excesso é
chato.
Falar demais é chato. Defender
exageradamente uma ideia é chato. Querer ter sempre razão é chato. Falar apenas
um assunto é chato. Tentar convencer todo mundo de algo é chato.
Num mundo que tenta o tempo
inteiro ser tão politicamente correto – ao menos online, porque off-line a
gente sabe que é outra história – a coisa mais fácil é se tornar um chato. Eu
poderia elencar os chatos virtuais por assunto... então vamos lá!
O chato detox. É aquele cara que
só toma suco verde de manhã, se entope de chia, só consome orgânico e olha
incrédulo quando te vê pedindo algum alimento sem antes inspecionar se tem
glúten ou lactose.
O chato humanizado.
Esse
geralmente é interpretado majestosamente pelo gênero feminino. É aquela que,
depois de ver nas estatísticas a absurda quantidade de partos por cesariana que
os médicos fazem, decidiu que não se precisa mais de médico, nem de hospital,
nem de material esterilizado. Tudo é uma questão de voltarmos aos velhos e bons
tempos em que se segurava na mão da parteira – hoje chamada de doula – abria as
pernas, dava meia dúzia de urros e... BUÁÁÁ! Lá estava aquele ser gordinho,
cabeludinho e saudável. A única diferença é que agora isso precisa ser registrado
em dezenas de fotos, 3 horas exaustivas de filmagem e alguém pra dar um tapa no
visual quando a mãezinha estiver suando muito.
O chato ostentação.
É aquele que
necessita mostrar tudo o que adquiriu nos últimos dias. Pra isso faz post de
hora em hora, contando por onde anda, mostrando a quantidade de sacolas e
claro, a marca importada no relógio de pulso, na direção da caranga e até no
café que segura.
O chato racauchutagem.
Mais um
assunto que perambula muito mais pelo mundo feminino, mas que volta e meia
aparece num cabelo acaju – de algum desavisado sobre as ciladas do tingimento
aos cabelos brancos. Esse tipo de chata é aquele que a gente nunca sabe se está
olhando pra uma boneca inflável – porque o cabelo é megahair, a pele é
“botocada”, os dentes são quase azuis de tanto clareamento a laser, a barriga
parece que foi passada a ferro e os peitos estão quase sempre estourando a
blusa (sem contar que correm o sério risco de atrapalhar na hora da mastigação
da pessoa, não permitindo abrir muito a boca sem bater neles) – ou só pra
alguém que não aceita até hoje ter rodado no concurso pra Paquita.
O chato cultural.
É aquele que
quer sempre dar pitaco no programa de final de semana de todos os amigos.
Praça? Só com um bom livro a tira colo. Cinema? Desde que não seja americano.
Shopping? Coisa de gente vazia. Televisão? O que é televisão?
O chato maromba.
Aquele! O que só
posta foto na academia. Que faz o antes e depois a cada 2 semanas. Que vive
munido de whey protein e flatos. Que posta todos os dias da semana algo que
inicia ou encerra com o mantra “Força, foco e fé”. Aquele que não bebe nada alcoólico,
que não deixa de treinar um dia, que só se alimenta de frango, batata doce,
brócolis e ovo – sem a gema, que fique bem claro! – E que usa o mesmo suplemento
dado aos equinos, mas finge que o corpão é produto de boa alimentação, bom
treino e bom sono. Ahã.
O chato religioso.
Aquele que já
aprontou horrores na vida, mas que de repente, decide mudar. E mudar significa
falar que “só o Senhor dá vida, auxilia, cativa, protege, ama, cumpre, tem
poder”. E isso precisa estar na postagem de bom dia e na de boa noite... sendo
que entre uma e outra ele continua aprontando horrores!
Óbvio que esse é apenas um texto
exagerado. A gente sabe que de chato, todos temos um pouco – Tá. Alguns muito,
eu sei. Escrevi de uma forma caricata, pois o cotidiano é como fofoca, se não
houver exagero, não tem graça!