Perguntas mais frequentes
O que são distúrbios de comunicação?
Existem diversos tipos de distúrbio agrupados sob
essa categoria. Alguns exemplos são os distúrbio de articulação, de voz, de
linguagem e a gagueira.
O que é fissura labiopalatal?
É uma abertura na região do lábio ou palato,
ocasionada pelo não fechamento dessas estruturas,
que ocorre entre a quarta e a décima semana de gestação. As fissuras podem ser
unilaterais ou bilaterais e variam desde formas mais leves, como cicatriz
labial e o úvula bífida, até formas mais graves, como as fissuras amplas de
lábio e palato. Podem ocorrer fissuras atípicas envolvendo a região oral,
nasal, ocular e craniana. No Brasil, a cada 650 crianças uma tem essa
malformação labiopalatal, chamada popularmente de "lábio leporino".
Quais são as causas da fissura labiopalatal?
A causa é multifatorial, podendo combinar fatores
genéticos e ambientais. O fator genético envolve uma inter-relação de várias
informações genéticas herdadas dos pais. Dentre os fatores ambientais estão o
uso do álcool ou de cigarros, a realização de raio X na região abdominal ou a
ingestão de medicamentos com anticonvulsivantes ou corticóides durante o
primeiro trimestre da gravidez.
Existe um Hospital de Reabilitação de Anomalias
Craniofaciais (HRAC) da USP, em Bauru. O trabalho dessa instituição pode ser
conhecido acessando http://www.centrinho.usp.br/
O que é dislalia?
É uma perturbação da fala caracterizada por
hesitação repetitiva e demora na emissão das palavras ou pelo prolongamento
anormal dos sons. A gaguez começa geralmente na infância, em 90% dos casos
antes dos 8 anos. Afeta entre 1 a 3% da população adulta. Cerca de metade das
crianças em que a gagueira persiste até aos 5 anos (pode começar entre os 2 e 4
anos), continuam a gaguejar quando adultos.
O que é ecolalia?
Ecolalia é a repetição da última palavra, som ou
frase ouvida. Pode ser considerada um distúrbio de comunicação semelhante à
gagueira.
O que é afasia?
Afasia é um comprometimento verbal que implica em
distúrbios de vocabulário ou de problemas quanto a compreensão de linguagem. A
afasia possui as mesmas etiologias da disartria, muitas vezes um AVCI ou AVCH,
que compromete as áreas do córtex cerebral, relacionadas com a linguagem.
A afasia pode ser classificada de diferentes
maneiras, de forma simplificada podemos citar:
* afasia de recepção: na qual o indivíduo apresenta
dificuldades para compreender a linguagem falada ou escrita;
* afasia de expressão: na qual o indivíduo
apresenta dificuldades para expressar seus pensamentos por meio da fala ou da escrita,
mesmo tendo intenção comunicativa;
* afasia receptiva/expressiva: na qual o indivíduo
apresenta dificuldades para compreender o que lhe é comunicado e expressar seus
pensamentos.
O que é disartria?
É a articulação defeituosa dos sons da fala sem
comprometimento do processo linguístico. A dificuldade é devida a distúrbios
motores dos órgãos da fonação, como língua e lábios, em consequência de lesões
bulbares, cerebelares ou mesmo corticais (do córtex cerebral).
O que é dislexia?
A definição mais usada na atualidade é de Abril de
1994 e foi redigida pela Internacional Dyslexia Association:
"Dislexia é um dos muitos distúrbios de
aprendizagem. É um distúrbio específico da linguagem, de origem constitucional,
caracterizado pela dificuldade de decodificar palavras simples. Apesar de
submetida a instrução convencional, adequada inteligência, oportunidade
sociocultural e não possuir distúrbios cognitivos e sensoriais fundamentais, a
criança falha no processo de aquisição da linguagem. A dislexia é apresentada
em várias formas de dificuldade com as diferentes formas de linguagem, frequentemente
incluídos problemas de leitura, de aquisição e capacidade de escrever e
soletrar."
O que é disgrafia?
O termo disgrafia refere-se à dificuldade de
escrita. Assim, de acordo com a divisão tradicional, a disgrafia se subdivide
em disgrafia específica, ou propriamente dita, e disgrafia motora. Na primeira
delas, não se estabelece uma relação entre o sistema simbólico e as grafias que
representam os sons, as palavras e as frases. A isto denomina-se simplesmente
disgrafia. A segunda ocorre quando a motricidade está particularmente em jogo,
mas o sistema simbólico não. A isto denomina-se discaligrafia, entendendo-a não
somente como o resultado de uma alteração motora, mas também de fatores, o que
altera a forma da letra. Os indicadores que se consideram para a disgrafia
recebem os mesmos nomes que os indicadores de dislexia, apenas observa-se que
na primeira estes ocorrem no momento de escrever (inversão, substituição,
translação, omissão de palavras) e, na segunda, durante a leitura.
Pessoas que gaguejam, como grupo, diferem dos seus
pares fluentes por apresentarem, na média, uma pontuação levemente mais baixa
em testes de inteligência, tanto em tarefas verbais quanto em tarefas
não-verbais, e por apresentarem um certo atraso no desenvolvimento da fala
(Andrews et al., 1983; Paden et al., 1999). Contudo, as desvantagens nos
escores de inteligência precisam ser interpretadas cuidadosamente, haja vista
que os gagos geralmente enfrentam dificuldades para se ajustar ao ambiente
escolar, o que pode resultar numa defasagem de vários meses (Andrews et al.,
1983). Os sintomas associados incluem atrasos nas tarefas que requerem resposta
vocal (Peters et al., 1989) e também em tarefas cronometradas de habilidade
bimanual relativamente complexas, como inserir uma linha no buraco de uma
agulha (Vaughn and Webster, 1989), ao mesmo tempo em que muitos outros estudos
sobre tempos de reação sensório-motora não produziram resultados consistentes
(Andrews et al., 1983). Alterações no feedback auditivo (p.ex.,
retroalimentação auditiva atrasada ou com alteração de frequência), várias
outras formas de estimulação auditiva (p.ex., leitura em coro) e mudanças do
ritmo da fala (p.ex., fala silabada) produzem uma redução imediata e
significativa na frequência da gagueira, o que tem suscitado suspeitas de um
processamento sensório-auditivo prejudicado ou da falta de um mecanismo
eficiente de sincronização interna em indivíduos gagos (Lee, 1951; Brady and
Berson, 1975; Hall and Jerger, 1978; Salmelin et al., 1998). Outros grupos de
pesquisa também reportaram um início atrasado ou descoordenado em padrões
articulatórios complexos em indivíduos gagos (Caruso et al., 1988; van Lieshout
et al., 1993). A suposição de que a gagueira poderia ser uma forma de distonia
- contrações musculares involuntárias produzidas pelo SNC -, específica para a
produção de linguagem (Kiziltan and Akalin, 1996), não foi corroborada por um
estudo sobre excitabilidade do córtex motor (Sommer et al., 2003).
A neuroquímica, por outro lado, pode estabelecer
relações entre a gagueira e desordens relacionadas a uma rede de estruturas
cerebrais envolvidas no controle do movimento, os núcleos da base. Um aumento
na concentração do neurotransmissor dopamina tem sido associado a distúrbios de
movimento, tais como a síndrome de Tourette (Comings et al., 1996; Abwender et
al., 1998), que é uma desordem neurológica caracterizada por emissões vocais e
movimentos corporais involuntários e repetitivos (tiques vocais e motores). Em
conformidade com essa hipótese, assim como acontece com a síndrome de Tourette,
a gagueira também é suavizada com a administração de medicação
antidopaminérgica, ou seja, neurolépticos como o haloperidol, a risperidona e a
olanzapina (Brady, 1991; Lavid et al., 1999; Maguire et al., 2000). Ao mesmo
tempo, relatos sugerem que os sintomas da gagueira são acentuados ou até mesmo
surgem a partir de um tratamento que envolva medicação dopaminérgica (Koller,
1983; Anderson et al., 1999; Shahed and Jankovic, 2001). Consequentemente, uma
hiperatividade no sistema neurotransmissor dopaminérgico tem sido
correlacionada à gagueira e parece contribuir para sua manifestação. Embora os
antagonistas da dopamina tenham um efeito positivo sobre a gagueira, todos eles
também possuem o risco de efeitos colaterais, o que ainda os impede de serem
utilizados como uma primeira linha de tratamento para a gagueira. Lições
tiradas a partir de técnicas de imageamento cerebral
Dada a existência de relatos sobre gagueira
adquirida após trauma cerebral (Grant et al., 1999; Ciabarra et al., 2000), é
possível cogitar que a simples análise das lesões (isto é, investigar o ponto
comum de todas essas lesões que levaram à gagueira) pudesse ajudar na
localização de uma anormalidade específica responsável pelo problema.
Infelizmente, as lesões que levam à gagueira neurogênica são difusas e não
parecem seguir um padrão evidente de sobreposição. Até mesmo o contrário tem
sido observado: cura da gagueira após derrame talâmico em um paciente (Muroi et
al., 1999).
Em pessoas fluentes, o hemisfério esquerdo,
normalmente dominante para funções linguísticas, fica mais ativo durante
tarefas que envolvam fala e linguagem. Em contrapartida, estudos pioneiros
sobre lateralização através de EEG já sugeriam um padrão anormal de dominância
hemisférica em gagos (Moore and Haynes, 1980). Com o advento de outras técnicas
não-invasivas de imageamento cerebral, tais como a tomografia por emissão de
pósitrons (PET) e a ressonância magnética funcional (fMRI), tornou-se possível
visualizar a atividade cerebral de gagos e comparar os padrões obtidos àqueles
de indivíduos fluentes do grupo controle. Seguindo a pista deixada por teorias
consagradas que relacionavam a gagueira a um desequilíbrio na assimetria
hemisférica normal (Travis, 1978; Moore and Haynes, 1980), um importante estudo
baseado em PET (Fox et al., 1996) constatou uma ativação aumentada do
hemisfério direito quando portadores de PDS eram solicitados a realizar uma
determinada tarefa de linguagem. Outro estudo também utilizando PET (Braun et
al., 1997) confirmou este resultado, mas adicionou um importante detalhe ao
estudo prévio: Braun e seus parceiros de pesquisa descobriram que o hemisfério
esquerdo estava mais ativo durante os momentos de produção de fala gaguejada,
enquanto a ativação do hemisfério direito estava mais correlacionada aos
momentos de fala fluente. Assim, os autores concluíram que a disfunção primária
está localizada no hemisfério esquerdo e que a hiperativação do hemisfério
direito pode não ser a causa da gagueira, mas na verdade um mecanismo
compensatório. Um processo compensatório similar tem sido observado após
derrames cerebrais que resultam em afasia, quando o hemisfério direito intacto
tenta compensar no mínimo parcialmente a perda de função do hemisfério oposto
(Weiller et al., 1995). A hiperativação do hemisfério direito durante produção
de fala fluente tem sido confirmada mais recentemente por meio de fMRI (Neumann
et al., 2003).
PET e fMRI têm alta resolução espacial; porém, em
razão de determinarem apenas de forma indireta a taxa de atividade cerebral
através do fluxo sanguíneo, a precisão de seus dados com relação ao instante
exato de ocorrência do fenômeno investigado é mais limitada. A
magnetoencefalografia (MEG) é um método mais apropriado quando se trata de
examinar uma sequência de respostas cerebrais de curta duração e minimamente
espaçadas no tempo. Consequentemente, a MEG foi usada para investigar gagos e
indivíduos fluentes do grupo controle durante uma tarefa de leitura de palavras
isoladas (Salmelin et al., 2000). Um importante resultado obtido a partir deste
estudo foi que os sujeitos gagos conseguiram ler a maioria das palavras
isoladas fluentemente. Contudo, os dados mostraram também uma diferença
bastante evidente entre os dois grupos: enquanto os indivíduos fluentes
ativaram áreas frontais do hemisfério esquerdo relacionadas ao planejamento da
linguagem antes de acionarem as áreas centrais envolvidas na execução da fala,
este padrão estava ausente, ou até mesmo invertido, em gagos. Este foi o
primeiro estudo a mostrar diretamente uma correlação neuronal da hipotética
dificuldade de temporalização em gagos (Van Riper, 1982).
Desse modo, os estudos de neuroimagística funcional
revelaram dois importantes fatos: (i) em gagos, o hemisfério direito parece
estar hiperativado; e (ii) parece haver um problema de temporalização entre as
regiões corticais frontal e central no hemisfério esquerdo. O último fato
também se ajusta a várias outras observações que dão conta de que indivíduos
gagos possuem pequenas anormalidades em tarefas de coordenação com um certo
grau de complexidade, sugerindo que o problema subjacente está localizado em
torno de áreas cerebrais motoras e áreas pré-motoras associadas.
Há anomalias estruturais paralelas às anomalias
funcionais descritas? O primeiro estudo anatômico a investigar esta questão
usou aparelhos de ressonância magnética de alta resolução que detectaram
anormalidades em áreas cerebrais relacionadas às funções de fala e linguagem
(áreas de Broca e Wernicke) (Foundas et al., 2001). Em adição a esses dados, os
pesquisadores também relataram a presença de anomalias no padrão de girificação
do cérebro. A girificação é um procedimento bastante complexo de
desenvolvimento cerebral, e a ocorrência de anormalidades neste processo é um
indício da presença de distúrbios do desenvolvimento.
Outro estudo recente investigou a hipótese de que
uma conexão cortical deficiente poderia ser a razão subjacente às perturbações
no sincronismo entre as regiões frontal e central observadas nos estudos
de MEG.
Usando uma nova técnica de imageamento por
ressonância magnética, a DTI (imageamento vetorial por tensor de difusão), que
permite avaliar a estrutura íntima da substância branca cerebral (análise ultra
estrutural de feixes nervosos), os pesquisadores depararam com uma área que
exibia uma coesão nitidamente diminuída na constituição das fibras nervosas do
opérculo rolândico esquerdo (Sommer et al., 2002). Esta estrutura é adjacente à
representação motora primária da língua, da laringe e da faringe (Martin et
al., 2001) e ao feixe arqueado inferior; ela liga áreas do córtex frontal e
temporal encarregadas do processamento da linguagem, integrando-as numa espécie
de sistema de linguagem têmporo-frontal responsável pela produção e percepção
de palavras (Price et al., 1996). É portanto concebível admitir que uma
transmissão perturbada de impulsos nervosos através das fibras que atravessam a
região do opérculo rolândico inviabilize a rápida integração sensório-motora
necessária para a produção de fala fluente. Esta teoria também explica a razão
pela qual o padrão temporal normal de ativação entre o córtex pré-motor e o
motor está dessincronizado em indivíduos gagos (Salmelin et al., 2000) e por
que, como consequência, as áreas de linguagem do hemisfério direito tentam
intervir para compensar esta deficiência (Fox et al., 1996).
Esses novos dados também fornecem uma teoria para
explicar o mecanismo pelo qual as manobras comuns de indução de fluência - tais
como ler em coro, cantar ou ler com o auxílio de um metrônomo - conseguem
reduzir a gagueira instantaneamente. Todos esses procedimentos envolvem um
sinal externo (isto é, outros leitores lendo em uníssono, a melodia da música
que está sendo entoada, e o ritmo constante do metrônomo). Todos esses sinais
externos alimentam o sistema de produção de fala através do córtex auditivo. É
possível, portanto, que este sinal de disparo exterior alcance as áreas cerebrais
centrais responsáveis pela produção da fala, contornando a desconexão
frontocentral e reabilitando a sincronização dos centros de processamento cujas
atividades estavam mal integradas. Em termos simples, esses estímulos externos
podem ser vistos como uma espécie de marca-passo.
FONTE: Instituto Brasileiro de Fluência
1. Mito: A gagueira é
um hábito adquirido.
Realidade: Afirmar que
a gagueira é um hábito significa que a pessoa começaria a gaguejar voluntariamente
e, com a prática, a gagueira se tornaria automática. Não é isso o que acontece.
A gagueira é um distúrbio neurobiológico causado provavelmente pelo mau
funcionamento de áreas do cérebro responsáveis pela automatização da fala: os
núcleos da base não conseguem ajustar adequadamente o tempo de duração de sons
e sílabas, ocasionando alongamentos, bloqueios ou repetições. Esta disfunção é
resultado de uma predisposição genética ou de uma alteração na estrutura do
próprio cérebro. Portanto, a gagueira não pode ser simplesmente aprendida por
imitação, porque ocorre em pessoas que, de alguma forma, estão propensas a ela.
2. Mito: Se eu não
gaguejo em algumas situações (por exemplo: cantar, ler em coro, falar com outro
sotaque, representar um personagem, sussurrar), é sinal de que posso ser
fluente em todas as situações. Se não consigo ser sempre fluente, a culpa é
minha.
Realidade: Dependendo
do contexto, a fala é processada por diferentes partes do cérebro. As variações
situacionais da gagueira - embora possam soar indevidamente como um problema
emocional ou de ansiedade social - refletem apenas diferenças no modo como o
cérebro processa a fala de acordo com a circunstância, usando um de dois
sistemas pré-motores para fazer a temporalização do movimento: o sistema
pré-motor medial ou o sistema pré-motor lateral. Na gagueira, o sistema
pré-motor medial, responsável pela fala espontânea e integrado pelos núcleos da
base, é o que tende a estar comprometido. Por outro lado, o sistema pré-motor
lateral, responsável pela fala não-espontânea (como falar sozinho, cantar, ler
em coro, representar um personagem e sussurrar) e integrado pelo cerebelo,
tende a estar íntegro. Assim, a melhora da gagueira em situações que não
envolvem fala espontânea é esperada e não significa que esta melhora possa ser
transferida para a fala espontânea, uma vez que são processamentos distintos.
3. Mito: Pessoas com
gagueira nunca gaguejam cantando ou quando representam um personagem no teatro.
Realidade: A maior
parte das pessoas com gagueira realmente não gagueja quando canta. Entretanto,
algumas pessoas com gagueira podem enfrentar dificuldades para iniciar o canto,
outras podem gaguejar apenas quando cantam músicas de ritmo quase falado (como
o rap, por exemplo) e outras ainda podem gaguejar no canto da mesma forma que
gaguejam quando falam. Da mesma forma, boa parte das pessoas com gagueira não
gagueja quando representa um personagem no teatro. A explicação para a ausência
da gagueira durante o canto ou a representação de um personagem está em como o
cérebro processa estas formas de expressão verbal: ambas tendem a ser
processadas pelo sistema pré-motor lateral, que tende a estar preservado nas
pessoas que gaguejam. Quando a gagueira ocorre durante o canto ou durante a
representação de personagens, significa que o processamento não foi transferido
para o sistema pré-motor lateral ou que também há algum comprometimento neste
sistema.
4. Mito: O fato de as
pessoas com gagueira experimentarem melhora na fluência em situações de
alteração de feedback auditivo (atraso, alteração de frequência ou
mascaramento) prova que a gagueira é psicológica, porque não haveria nenhuma
razão para a gagueira melhorar sob estas condições.
Realidade: Quando o
feedback auditivo é modificado, a fala não é mais processada de forma
automática pelo cérebro. Nestes casos, o cerebelo entra em ação, porque se
torna necessário extrair pistas acústicas do som externo para temporalizar a
fala. É o mesmo efeito que ocorre com a leitura em coro e com o falar ao ritmo
de um metrônomo, que também melhoram a gagueira de muitas pessoas.
5. Mito: O fato de as
pessoas com gagueira vivenciarem piora da gagueira de acordo com o interlocutor
prova que a gagueira é psicológica.
Realidade: Oscilações
na gagueira que dependem do interlocutor geralmente podem ser explicadas pela
ativação da resposta de congelamento. A resposta de congelamento está
relacionada a uma baixa geral de atividade do organismo, incluindo diminuição
dos batimentos cardíacos, da pressão arterial e dos movimentos de fala. Quando
uma pessoa (com gagueira ou não) se encontra em uma situação de dúvida, o
cérebro dá uma ordem para o corpo se movimentar menos até que a pessoa decida o
que fazer. No caso de pessoas que gaguejam, a situação de ambiguidade pode
piorar a gagueira. Este efeito também pode explicar a melhora da gagueira
quando a pessoa fala ou lê sozinha.
6. Mito: Geralmente
tenho dificuldade para dizer meu nome e meu número de telefone quando as
pessoas solicitam. Entretanto, consigo dizê-los fluentemente se estou sozinho.
Isso é uma evidência de que a gagueira é psicológica.
Realidade: Este efeito
pode ser explicado por três fatores. Primeiro, a gagueira é um distúrbio de
fala espontânea, isso quer dizer que ela tende a se manifestar com maior
intensidade quando a fala é utilizada de maneira proposicional, isto é, quando
a fala de fato tem finalidade prática. Falar uma expressão fora de contexto
(quando se está sozinho, por exemplo) diminui a proposicionalidade daquela
expressão, fazendo com que a gagueira também diminua. Segundo, no contexto
real, existe uma pressão de tempo natural, ou seja, a expressão deve ser
proferida no tempo adequado. Lembrando que a dificuldade de temporalização é
justamente a maior dificuldade das pessoas que gaguejam, não é de se espantar
que a dificuldade aumente quando a pressão de tempo está presente. Terceiro, se
a pessoa reagir negativamente frente à antecipação da ocorrência da gagueira, a
gagueira também terá maior probabilidade de ocorrer devido à ativação da
resposta de congelamento, que faz com que o corpo tenda a paralisar, alterando
assim a produção da fala. É bom lembrar que muitos outros distúrbios oscilam de
acordo com a situação (por exemplo: Síndrome de Tourette, disfonia espasmódica,
doença de Parkinson), não sendo está uma característica exclusiva da gagueira.
7. Mito: Se eu
não gaguejasse, minha vida seria perfeita e eu conseguiria realizar todos os
meus sonhos.
Realidade: A gagueira
de origem hereditária parece envolver níveis elevados do neurotransmissor
dopamina e um funcionamento atípico de receptores dopaminérgicos em
determinadas áreas do cérebro. O excesso de atividade dopaminérgica está
relacionado a dificuldades na automatização de movimentos (como os de fala,
gerando a gagueira), mas também está relacionado a um maior desempenho
intelectual, maior capacidade de atenção e menor tendência à hiperatividade e
impulsividade. A gagueira por lesão neurológica envolve dano físico ou
bioquímico aos núcleos da base, estando relacionada a menor capacidade de
atenção e maior tendência à hiperatividade e impulsividade. Portanto, se você
não gaguejasse, você não seria quem é; sua vida e seus problemas seriam outros
.
25 mitos sobre gagueira -2
8. Mito: Geralmente
tenho dificuldade para dizer meu nome e meu número de telefone quando as
pessoas solicitam. Entretanto, consigo dizê-los fluentemente se estou sozinho.
Isso é uma evidência de que a gagueira é psicológica.
Realidade: Este efeito
pode ser explicado por três fatores. Primeiro, a gagueira é um distúrbio de
fala espontânea, isso quer dizer que ela tende a se manifestar com maior
intensidade quando a fala é utilizada de maneira proposicional, isto é, quando
a fala de fato tem finalidade prática. Falar uma expressão fora de contexto
(quando se está sozinho, por exemplo) diminui a proposicionalidade daquela
expressão, fazendo com que a gagueira também diminua. Segundo, no contexto
real, existe uma pressão de tempo natural, ou seja, a expressão deve ser
proferida no tempo adequado. Lembrando que a dificuldade de temporalização é
justamente a maior dificuldade das pessoas que gaguejam, não é de se espantar
que a dificuldade aumente quando a pressão de tempo está presente. Terceiro, se
a pessoa reagir negativamente frente à antecipação da ocorrência da gagueira, a
gagueira também terá maior probabilidade de ocorrer devido à ativação da
resposta de congelamento, que faz com que o corpo tenda a paralisar, alterando
assim a produção da fala. É bom lembrar que muitos outros distúrbios oscilam de
acordo com a situação (por exemplo: Síndrome de Tourette, disfonia espasmódica,
doença de Parkinson), não sendo está uma característica exclusiva da gagueira.
9. Mito: Se eu não
gaguejasse, minha vida seria perfeita e eu conseguiria realizar todos os meus
sonhos.
Realidade: A gagueira
de origem hereditária parece envolver níveis elevados do neurotransmissor
dopamina e um funcionamento atípico de receptores dopaminérgicos em
determinadas áreas do cérebro. O excesso de atividade dopaminérgica está
relacionado a dificuldades na automatização de movimentos (como os de fala,
gerando a gagueira), mas também está relacionado a um maior desempenho
intelectual, maior capacidade de atenção e menor tendência à hiperatividade e
impulsividade. A gagueira por lesão neurológica envolve dano físico ou
bioquímico aos núcleos da base, estando relacionada a menor capacidade de
atenção e maior tendência à hiperatividade e impulsividade. Portanto, se você
não gaguejasse, você não seria quem é; sua vida e seus problemas seriam outros.
10. Mito: Pessoas que
gaguejam são menos inteligentes.
Realidade: Não há
relação de causa ou conseqüência entre gagueira e inteligência, ou seja, não é
a falta de inteligência que causa a gagueira e nem a gagueira deixa a pessoa
menos inteligente. Algumas pessoas com gagueira optam por expressar menos suas
opiniões oralmente; eventualmente esta atitude pode dar a impressão para o
interlocutor de que a pessoa é menos inteligente, mas este geralmente não é o
caso.
11. Mito: A gagueira
está mais presente em sociedades que estimulam a competição e que cobram melhor
desempenho do indivíduo.
Realidade: A gagueira
é um distúrbio que parece afetar igualmente todas as classes sociais, etnias,
sociedades e culturas - desde comunidades indígenas da América do Sul ou do
Norte, até executivos de Tóquio e Wall Street.
12. Mito: A criança
gagueja para chamar a atenção dos pais.
Realidade: A gagueira
não é um comportamento voluntário. Portanto, a criança não gagueja porque quer
ou para chamar a atenção dos pais.
13. Mito: A criança
começou a gaguejar depois do nascimento do irmão, porque ficou com ciúmes dele.
Realidade: A aparente
relação causal entre o início da gagueira e o nascimento de um irmão mais novo
não passa de mero acaso. O frequente intervalo de 2-3 anos entre o nascimento
de dois irmãos é a chave de toda a explicação. A gagueira inicia geralmente por
volta dos 2-3 anos em razão de uma fase natural de desenvolvimento das
estruturas cerebrais responsáveis pela automatização da fala (os núcleos da
base). Esse período coincide com a diferença de idade que é mais comum entre
dois irmãos. Ou seja, devido ao fato acidental de que ambos, o surgimento da
gagueira e a diferença mais provável de idade entre irmãos, estejam em torno de
2-3 anos, há uma grande probabilidade de que uma criança comece a gaguejar
próximo ao nascimento do seu irmão.
14. Mito: Pais de
crianças que gaguejam são os principais responsáveis pelo distúrbio do filho,
pois a gagueira resultaria de uma educação repressora e recriminadora.
Realidade: A gagueira
é um distúrbio neurobiológico cuja manifestação, na grande maioria das vezes,
acontece à revelia de qualquer comportamento dos pais.
- Quando a
gagueira ocorre devido à herança genética, significa que a criança possui genes
que a predispõem ao distúrbio. Como os genes são determinados no momento da
fecundação, os pais não podem escolher os genes que o filho irá receber. Por
outro lado, sabe-se que o ambiente influencia a expressão genética. Desta
forma, propiciar que a criança se desenvolva em ambientes (familiar, escolar,
social) que favoreçam o adequado desenvolvimento da linguagem pode ser
considerado como um fator de proteção.
- Quando a
gagueira ocorre devido à lesão neurológica, geralmente a lesão foi causada por
algum acidente em que a criança bateu a cabeça (acidentes domésticos,
esportivos ou automobilísticos). Crianças entre 0 e 4 anos e adolescentes entre
15 e 19 anos são os mais propensos a sofrer trauma de crânio. O que os pais
podem fazer é tentar evitar a ocorrência destes acidentes, tomando as
precauções necessárias.
Embora os pais
praticamente não possam evitar o início da gagueira, podem evitar que ela se
agrave e se torne crônica. E é justamente em relação a estes aspectos que
atitudes esclarecidas por parte dos pais são importantes.
25 mitos sobre
gagueira - 3
15. Mito: A criança começa a gaguejar por
excesso de cobrança dos pais.
Realidade: Os pais de pessoas que gaguejam são
alvos de diversos estereótipos sociais. Seriam pais dominadores,
superprotetores, com altas expectativas, perfeccionistas, com sentimento de
rejeição e avaliações indesejáveis sobre a personalidade do filho que gagueja.
Entretanto, os avanços científicos já demonstraram que os pais não são os
responsáveis pela gagueira de seus filhos. Por outro lado, determinadas
atitudes podem piorar a gagueira (por exemplo, dizer para a criança parar de
gaguejar, pensar antes de falar ou ficar calma). Deste modo, o ambiente
familiar também desempenha um papel importante, mas não tanto no surgimento e,
sim, na recuperação da gagueira. Por isso, é extremamente importante que os
pais adotem atitudes que promovam a fluência.
16. Mito: Pode-se pegar gagueira por imitação ou
por ouvir uma outra pessoa que gagueja.
Realidade: Ninguém pode pegar gagueira. Se fosse
assim, todas as pessoas que convivessem com alguém que gagueja, gaguejariam
também, mas isso realmente não acontece. Além disso, dizer para uma pessoa que
gagueja que ela aprendeu a gaguejar por imitação significa rebaixá-la e
humilhá-la: com tantas características favoráveis para imitar, por que
escolheria a gagueira, que lhe seria prejudicial e traria desvantagens?
17. Mito: Um susto pode causar a gagueira.
Realidade: Se sustos causassem gagueira, então
provavelmente todas as pessoas gaguejariam, porque, afinal, quem nunca levou um
susto?
18. Mito: Nervosismo, ansiedade, insegurança,
timidez e baixa autoestima causam gagueira.
Realidade: Fatores psicológicos não causam
gagueira, embora possam agravá-la. Além disso, também está incorreto assumir
que pessoas que gaguejam sejam mais propensas a serem nervosas, medrosas,
ansiosas, tímidas ou com baixa autoestima. Algumas pessoas com gagueira podem
apresentar ansiedade, insegurança, timidez e/ou baixa autoestima para falar,
mas essas características tendem a ser consequências de vivências comunicativas
frustrantes relacionadas à gagueira e não causas da gagueira.
19. Mito: Estresse causa gagueira.
Realidade: O estresse não causa gagueira, mas pode
agravá-la e, às vezes, até mesmo melhorar a gagueira. Há relatos na literatura
científica, por exemplo, de soldados com gagueira que falam fluentemente em
situações de guerra e de pessoas que, em situações de discussão, experimentam
uma grande redução da gagueira. As mudanças fisiológicas ocasionadas pelo grau
da resposta de congelamento explicam a melhora ou a piora da gagueira sob
estresse.
20. Mito: Gagueira por herança genética é melhor do
que gagueira por lesão cerebral.
Realidade: Não é melhor e nem pior, apenas
diferente. A gagueira hereditária pode ser transmitida de geração para geração.
Por outro lado, a gagueira lesionai pode envolver danos mais amplos ao cérebro.
O mais importante é que ambas respondem favoravelmente ao tratamento
especializado.
21. Mito: Se a criança começar a gaguejar, é melhor
fazer de conta que nada está acontecendo para que ela não tome consciência do
problema.
Realidade: Acreditava-se que chamar a atenção da
criança para sua fala seria a causa imediata da gagueira, fazendo com que
hesitações comuns se transformassem em gagueira. Atualmente, sabe-se que isso
não é verdade. Falar com a criança sobre sua gagueira não fará com que o
distúrbio se instale ou piore. Falar abertamente com a criança sobre sua
gagueira fará com que ela sinta o apoio dos pais, sentindo-se encorajada para
compartilhar suas dificuldades. A conspiração do silêncio em torno da gagueira
só contribui para aumentar a distância entre pais e filhos.
22. Mito: Se a criança começou a gaguejar, é só
esperar que passa.
Realidade: Boa parte das crianças que começa a
gaguejar melhora espontaneamente pouco tempo após o início dos primeiros
sintomas de gagueira. Entretanto, os pais não têm como saber de antemão quais
as chances de ocorrer melhora espontânea com seu filho. Por isso, é fundamental
realizar uma avaliação com um fonoaudiólogo especializado em gagueira para
saber se é mais alta a chance de a gagueira melhorar espontaneamente ou se é
mais alta a chance de a gagueira persistir. Uma intervenção precoce adequada é
o melhor caminho para diminuir o impacto negativo da gagueira na vida da
criança e dos pais.
23. Mito: Ajuda dizer à pessoa para ficar calma,
relaxar, respirar fundo antes de falar ou pensar antes de falar.
Realidade: Este tipo de recomendação faz com que a
gagueira pareça algo muito simples de se resolver. Se realmente fosse assim,
não haveria tantas pessoas com gagueira persistente e talvez nem seria
necessário tratamento para gagueira. Quando a pessoa com gagueira ouve de seu
interlocutor algo como fique calmo, relaxe, respire ou pense antes de falar,
ela fica ainda mais preocupada com seu distúrbio, o que provavelmente
contribuirá para piorar a gagueira. Sendo assim, na intenção de ajudar, o
interlocutor acaba atrapalhando ainda mais. Muitas vezes, o mal-estar que o
interlocutor sente é maior do que o da própria pessoa que gagueja e é ele quem
precisa ficar calmo e relaxar. Reações mais úteis para o interlocutor incluem
esperar a pessoa que gagueja terminar sua fala, não completar palavras e
procurar falar de modo mais lento e articulado. Enfim, respeitar o tempo e a
forma de falar do outro.
24. Mito: Obrigar a criança a ler em voz alta na
sala de aula faz com que ela perca a timidez e o medo de falar.
Realidade: Timidez e medo não causam gagueira.
Portanto, é infundada a crença de que, se a criança deixar de ser tímida ou
deixar de ter medo para falar, a gagueira irá desaparecer. Na verdade, a
timidez e o medo de falar podem ser conseqüências da gagueira: a criança pode
ter medo de falar não porque acha que pode gaguejar, mas porque sabe que vai
gaguejar, porque também sabe que não consegue impedir a ocorrência da gagueira,
e, muitas vezes, por acreditar que deveria ser capaz de fazer algo para não
gaguejar. Por outro lado, o medo realmente pode agravar a gagueira. Assim,
obrigar a criança a ler em voz alta na sala de aula só vai contribuir para
piorar o problema. Em termos jurídicos, obrigar o aluno com gagueira a ler em
voz alta ou apresentar seminários é fato gravíssimo que justifica a abertura de
processo legal em razão do constrangimento gerado pelas situações.
25. Mito: A pessoa gagueja, porque pensa mais
rápido do que fala.
Realidade: Todas as pessoas pensam mais rápido do
que falam. Por exemplo, ao presenciarmos uma briga, nosso pensamento
rapidamente detecta que a situação em questão é uma briga, percebemos quase que
instantaneamente o local em que se passa e as pessoas envolvidas. Mas, por
outro lado, se tivermos que falar sobre o que presenciamos, necessitaremos de
um tempo muito maior para fazer isso. Para todo mundo, o pensamento é como se
fosse um relâmpago e a fala, o trovão que o acompanha instantes depois.
Portanto, a velocidade do pensamento não pode ser a causa da gagueira, porque
todo mundo pensa mais rápido do que fala, mas nem todo mundo gagueja.
Autores: Sandra Merlo e Hugo Silva.