Eu tenho medo. Medo de perder você. Medo de viver com medo. De ser a outra, de me esquecer dos meus gostos me lembrando dos seus. Medo de acreditar quando deveria desconfiar. Medo de desconfiar quando deveria acreditar. Medo de seguir e, ainda sim, medo de ficar.
É esse medo que me arrasta. Um
mar que me afasta de mim mesma na margem e me atrai para as inúmeras
possibilidades em meio à tormenta.
E você? Onde está seu medo? Dizem
que as pessoas sem medo vivem melhor. Mas o que restaria de nós se não fosse o
medo para nos impedir, na insanidade, de abraçar a morte? Restaria apenas o
orgulho, sorrindo a vitória como Coringa.
Seu orgulho bobo reflete meus
olhos implorando para que nunca me deixe aqui. Esse seu orgulho que logo se
transformará em egoísmo.
Você sabe o que acontece com o
egoísmo. É um sentimento que de alguma forma me lembra cigarro. De fumaça tão
espessa e cinzenta que logo se mescla ao ar e o deixa sozinho. Você vai inflar
seus pulmões e logo não conseguirá mais fazê-lo sair. Será completamente como
ele: cinzento, sozinho e, ainda pior, vazio.
Bem conheço uma pessoa vazia
quando vejo uma. As pessoas vazias vagam por aí enchendo-se de qualquer coisa,
alienados. Sugando outras pessoas na ânsia de se preencher. Trocam todos os
sabores pelo amargo, todos os cheiros pelo que lhes parece doce, horas de sono
por noitadas, seu lar por aventuras itinerantes, um único amor por muitas
bocas.
Já peguei diversos psicólogos
tentando explicar estes “desvios comportamentais”. Alguns dizem que é
“curiosidade”, outros que é “instinto”. Chamo de vazio. São potes enormes de
nada vagando pelo mundo.
Para estes enormes potes de nada
(como também é com as panelas) existem tampas grandes e pequenas perdidas por
aí. Quando alguma, distraída, acha que se encaixa muito bem no “pote de nada”,
pumba! O enorme pote vazio começa a se encher. Enche-se de novo com o orgulho,
egoísmo e agora com as lágrimas da “dona Tampa”.
Acontece que, por vezes, o pote
vai ficando tão grande que pende a tampa. Ela, coitada, não consegue mais se
soltar e fica lá até que alguém seja firme o suficiente para salvá-la. Mais
firme do que ela conseguiu ser até agora.
Não, a culpa não é do pote. É sua
sina. Ser vazio na vida. A dona Tampa é que tem que ficar esperta. Lamentar-se,
pensar que nunca encontrará alguém melhor, afirmar para si mesma que depende de
panelas e potes é que é loucura.
Moral da história: Frigideira
independente não precisa de tampa e escolhe se quiser.