Apesar de conhecer gente que parece o próprio satanás, ninguém voltou de lá para contar, então não temos como saber.
Cada mitologia tem seu inferno.
Eu acho que se existe esse negócio de céu e inferno, quem tinha que subir já subiu e que a gente aqui é só o que sobrou.
Mas Dante pensa diferente de mim e eu curto muito mais a versão dele, até porque ele com certeza é mais inteligente.
Segundo Dante, na Divina Comédia, o inferno é um prédio invertido de 9 andares. Começa em Jerusalém e vai descendo até chegar no andar mais baixo, que é o famoso cafofo do capeta.
Após análise curricular (nem tão criteriosa assim), você é selecionado para entrar na corporação.
Chegando no portão de entrada do inferno, você já é muito bem recebido com a frase de boas vindas: "Deixai toda a esperança, ó vós que entrais”.
Como toda repartição pública bem organizada, o inferno tem uma antessala de espera para os indecisos e covardes, que não podem ir nem para o céu e nem para o inferno. Durante a espera, o que já é uma tortura em si, eles são picados por enxames de vespas e correm sem parar (claro, pois estão sendo picados por vespas). O sangue que sai das picadas mistura-se a lágrimas e escorre até os pés, que são roídos por vermes amantes de um pé ao molho pardo.
Até aqui não curti, prefiro entrar e ver de qual é.
Se você, assim como eu, não achou a sala de espera um ambiente favorável, vamos juntos cruzar um rio pantanoso em um barquinho conduzido por Caronte (o barqueiro dos mortos na mitologia grega).
“Almas ruins, vim vos buscar para o castigo eterno!”, anuncia nosso motorista. E desce o cacete com o remo nos que demoram pra embarcar.
AQUI NÉ COLÔNIA DE FÉRIAS NÃO, AQUI É INFERNO PORRA.
Após o passeio agradável pelo complexo, chegamos ao prédio principal do inferno, a sede.
Aqui é tudo muito organizado e o diabo é bem metódico (ouvi dizer que ele encarna nas mães da Terra sempre que um copo sujo aparece na pia), sendo assim, cada andar possui sua especialidade e funcionários altamente treinados em tortura direcionada.
Vamos pegar o elevadorzinho. Não precisa olhar se o mesmo encontra-se neste andar, afinal, você já morreu.
Segue mapa para que você não se perca em sua visita (meramente turística, eu espero):
Não gostava de aventura? ENTÃO TOMA.
E se você não fazia safadeza no mundo, perdeu. Mentira, você passará por uma triagem e será recepcionado pelo monstro Minós, gerente de equipe, que enrola a cauda em seu corpo amistosamente (e sem safadeza, porque seria conflito de interesses). O número de voltas do rabão indica o círculo que o condenado vai habitar.
Já no fundo do rio, os rancorosos, que nunca externaram sua ira, suspiram borbulhas fedorentas.
Pq choras, ateu?
A diretoria tem total liberdade criativa por aqui.
Sabe aquele cara que faz vários nadas e foi promovido no seu lugar porque puxou o saco do chefe? Eis a nova área dele. A vida é justa às vezes, não é mesmo?
Pensou que o inferno era quente, né? Pensou errado, fofo. Se nem os capetas ralé dão conta dos dias de verão, quem dirá o presidente.
A solução pra isso foi mergulhar os traidores num lago congelado, deixando só a cabeça e o tronco de fora. Os queixos batem de frio e suas lágrimas congelam, levando-os ao desespero.
Ao passar por aqui, não perca a chance de ser tiozão e falar "até tu, Brutus?". O demo curte uma piada ruim.
E quem sabe assim você garante a sua vaga, ou se livra dela, seilá.