05/03/2024

1Coríntios 11.1; - Os arquetípicos do pastor

 

1Coríntios 11.1; -  Os arquetípicos do pastor

No texto anterior conhecemos uma das fabulas de Esopo - o maior criador de fábulas já conhecido e com suas inúmeras histórias e personagens peculiares, é possível compreender diferentes assuntos de forma simples, porém significativa. Ele era um escravo contador de histórias que viveu há muito, muito tempo… estima-se tenha nascido em torno de 620 antes da era cristã.

Além de escravo, Esopo era gago, com o rosto deformado por uma extrema feiura, mas também era dotado de uma extraordinária sabedoria prática.

Reza a lenda usava suas fábulas para denunciar a hipocrisia dos poderosos e para desmoralizar os procedimentos injustos das elites. Por causa do seu talento em contar histórias, acabou sendo libertado por seu dono. Então foi para Atenas e ali dedicou-se a defender as pessoas pobres e humildes.

Através da fabula da lebre e a tartaruga psicologicamente consegue-se equiparar a certos pastores e lideres cristãos alguns comportamentos. Assim temos o pastor purista, o pragmático, o imitador e o narcisista. Principalmente aos atuais. Veja:

Em primeiro lugar, temos o pastor purista - Esse age rápido demais em seus esforços de trazer as mudanças necessárias às igrejas. Tem fortes   convicções teológicas. Ele tem sido abençoado com uma clara visão bíblica para a vida da igreja e sua prática. Ele corre obstinadamente, sem desviar do caminho. Mas se move tão rápido que nem a congregação o acompanha. inicialmente, propõe uma nova declaração de fé, uma mudança constitucional para adotar ministérios e doutrinas. Fora o zelo radical com a imagem do templo.

Ironicamente, em seu zelo pela fiel teologia, ele trata com rudeza o verdadeiro povo da igreja, que é simples e humilde. Ele sempre esbraveja contra as doutrinas da graça nos outros, mas falha em mostrar aos seus membros a paciente graça de Deus em sua maneira de lidar com eles. Afrontado, ele se acha um mártir teológico em sua própria mente, cego para os seus equívocos.  

Em segundo lugar temos o pastor pragmático - Esse é o extremo oposto do purista, já que fará “qualquer coisa que funcione” para trazer as pessoas à igreja e mantê-las lá. Nada está fora dos limites, contanto que faça a igreja crescer e não envolva imoralidade flagrante ou óbvia heresia. Um pragmático carismático e talentoso pode fazer uma igreja crescer de 50 para 500 em pouquíssimo tempo, com uma sagaz mistura de humor, tecnologia, liderança e personalidade.

O pastor pragmático sabe como fazer a igreja crescer rapidamente, dando todas as aparências de revitalização. Mas algumas questões importantes são questionáveis:

Ele realmente se importa se as pessoas estão verdadeiramente sendo convertidas ao evangelho, arrependendo-se dos pecados e confiando em Cristo a sua salvação?

Ou apenas almeja que as pessoas sejam “igrejadas” de um modo prático e eficiente?

Será que está fazendo discípulos de Jesus ou apenas fãs da igreja da última moda?

Ele está cultivando uma tâmara ou sequoia espiritual, que cresce lentamente, mas adquire uma estatura majestosa no futuro?

Ou ele está meramente plantando uma rosa, que hoje desabrocha, mas murcha amanhã?

Seja qual a nossa resposta, quanto mais rápida e efetivamente alguém é capaz de aumentar a frequência de uma igreja, menos provável é que esse alguém questione teologicamente seus métodos. Números os enfeitiçam.

Em terceiro lugar o pastor imitador - Esse economiza tempo pegando um atalho ao replica em sua congregação a filosofia, sociologia e teologia de programas e denominações dos outros. Nunca apoia o ministério que quer copiar, não compra o livro, não participa da conferência, não adquire nenhum kit e sequer baixa os sermões de outra igreja bem sucedida. Sempre quer reinventar a roda.

Tanto o imitador quanto o pragmático nesse sentido, podem aprender com outros modelos de igreja, isso não é errado. Até o purista cai nessa tentação também de imitar os reformados   pastores heróis.

(De fato, a Escritura nos ordena a seguirmos os exemplos piedosos de outros (1Coríntios 11.1; Filipenses 3.17) e o apóstolo Paulo chega a apresentar uma igreja local inteira como modelo para outros crentes (1Tessalonicenses1.7). Contudo, nós pastores nos tornamos imitadores quando impomos o modelo de uma outra igreja sem considerar amorosamente o caráter, a história e a cultura singulares de nossa congregação.)

OBS. Claro que esse é um texto de reflexão. Não há pretensão em fazer uma exegese fiel da Bíblia porque isso é um trabalho de tartaruga e não de coelho.  Porque nós também erramos como imitadores ao deixar de avaliar o nosso modelo preferido (Cristo) à luz do ensino teológico e psicológico.

E por fim temos o pastor narcisista - o coelho mais perigoso. O narcisista vê o ministério da igreja pelas lentes de sua própria narrativa pessoal. Ele vê a renovação e a reforma congregacional como o palco para estrelar um roteiro centrado em si mesmo.

Na vanguarda, sonha em ser o cara que ajudará a igreja tradicional ou pentecostal enfadonha a se tornar moderna e eficiente. Certamente se imagina como um ativista que confrontará a igreja com lutas de classe acerca do envolvimento com os pobres e incautos.

Ele se acha a reencarnação de Lutero a procurar uma igreja vacilante doutrinariamente na qual possa afixar as suas 95 teses. Ou quem o “coach” que se veja falando a milhares de pessoas querendo transformar a sua congregação naquela milionária mega igreja.  

Devido a sua mania de grandeza, todo o narcisista tende a produzir pra si a impaciência. Quando estamos cheios de nós mesmos, interpretamos instabilidades e fracassos pessoais e vemos os opositores como ameaças pessoais. Portanto, aconselho que corra feito um coelho   desgovernado quando bater de frente com pastor narcisista. 

Resumindo: Agarre-se ao seu casco (fé)!

De um lado temos uma tartaruga que se arrasta fielmente adiante em alcançar o seu propósito. Do outro um serelepe coelho que se arranca em disparada sem limite apenas pra se mostrar capaz...

A tartaruga representa o cristão que se empenha pela renovação por meio de um ritmo constante de pregação bíblica expositiva diária, deixando que a Palavra ao tempo de Deus faça sua obra de transformação nela. Como cristão devemos dedicar tempo significativo à oração, clamando a Deus por revitalização. Também devemos caminhar devagar o bastante para conhecer e ouvir a voz do genuíno mestre, entendendo que não se pode verdadeiramente reformar aquilo que não se ama.  Temos que ter a confiança abrangente na soberania do nosso criador que produzirá a mudança necessária em nós, então aqueles baques cairão como chuva serôdia sobre nossa cabeça, refrescando-nos. Se Deus quer, que como a tartaruga da fabula, estejamos dispostos a dispender toda a carreira em uma única certeza: a salvação. E que a nossa narrativa pessoal seja simples e objetiva: eu sou apenas um servo de Jesus.

Se foi impressionante o quão longe a tartaruga pode ir imagina a gente?

Assim, esforcemo-nos por renovação de um modo que ponha os holofotes não no pregador com sua própria criatividade, técnica e personalidade, tão pouco no templo suntuoso, confortável e cheiroso, mas na Palavra de Deus, no tempo de Deus e no poder do evangelho.

E quanto as pessoas que contestam acerca da nossa transformação, e aperfeiçoamento diante de Deus, não exibiremos nossas credenciais, diplomas e  ordenações como as pernas musculosas de coelho apressado. Em vez disso, apenas diremos com toda a sinceridade: “Isto procede do SENHOR e é maravilhoso aos nossos olhos”.

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tom caet